Arquivo para julho, 2008

O Que é a Vida?

Posted in Formação on 24/07/2008 by Juliana

                                                                                

           Hoje deparei-me com a morte de uma pessoa muito querida, tenho certeza que ela viveu sempre em busca do céu eterno, na esperança de um dia descançar nos braços do Dileto Esposo.

        Mas isso me fez questionar sobre: o que é a vida? Qual o sentido, a razão de viver? Para que eu estou vivendo?

        São perguntas pertinentes, que hoje me vieram a mente, e me fizeram pensar no sentido que estou dando a minha vida, no que estou fazendo, para onde estou caminhando.

        Nossa vida não é simplesmente um acaso, fruto de descuido, ou simplesmente um desejo de nossos pais.

         Todos temos na vida um desafio maior, descobrir o propósito de nossas vidas; A Isolina me ensinou que viver para Deus é mais gostoso, tem sofrimentos e alegrias, como tem em qualquer lugar, só que no final da vida é nos braços de Deus que descançamos.

         Minha querida amiga, formadora, viveu sua vida à espera de algo maior, que talvez nem ela compreendesse direito o significado, porque os mistérios de Deus não nos cabe desvendar, mas ela viveu buscando agradar a Deus, satisfazendo as necessidades dos irmãos, amando a cada dia. Ela descobriu que o caminho é sempre o amor.

        Somos nós que temos que dar um sentido à nossa vida, é fruto de nossas escolhas, de nossas atitudes diante dos acontecimentos. A alegria de viver, o sentido de estarmos vivos hoje é fruto daquilo em que acreditamos.

         Se eu penso que a morte é o fim, então minha vida vai perdendo o sentido, a idade vai aumentando, os anos vão passando, e eu vou entrando em desespero, pois o ciclo natural da vida é que com a velhice vem também a morte.

         Mas, se eu creio em algo maior, se eu creio em Deus, que me chamou a vida por um motivo e que quando o tempo de Deus me alcançar volto para ele, então minha vida terá um sentido, porque saberei que a morte não é o fim, mas sim o começo.

         Temos uma vida inteira de trabalhos, alegrias e sofrimentos e se caminhamos com Deus, no final alcançaremos o descanço eterno.

         Deus nos criou para sermos santos, mas isto depende mais de nós do que do próprio Deus, pois Ele nos deu a liberdade de poder escolher o que queremos fazer e o que não queremos fazer.

        O que é a vida? Qual o sentido da vida? Essas perguntas só eu poderei respondê-las, minhas atitudes mostram aquilo em que eu acredito.

       Minha querida e eterna formadora, foi criada para o amor, amor à Deus e amor aos irmãos, se doou até o fim pelo que ela acreditava, com seus erros, limitações, tentou viver da forma mais perfeita que podia, deu um sentido a sua vida, gastou-se pelo seu ideal de amor e hoje recebeu o descanço eterno nos braços de Deus.

        Me ensinou mais com suas atitudes do que com suas palavras, vendo-a se doar pelos irmãos, pude entender que tudo aquilo que ela me falava eram bem mais que palavras ao vento, eram na verdade o seu itinerário de vida, pregava aquilo que vivia.

                       

Maria Isolina dos Santos, 46 anos, Consagrada da Comunidade Católica Arca da Aliança, mais uma intercessora junto do Pai. (15/06/62  + 24/07/08 )

O Bordado

Posted in Formação on 23/07/2008 by Juliana


 – Quando eu era pequeno, minha mãe costurava muito. Eu me sentava no
chão, brincando perto ela, e sempre lhe perguntava o que estava fazendo.
Respondia que estava bordando.

Todo dia era a mesma pergunta e a mesma resposta. Observava seu
trabalho de uma posição abaixo de onde ela se encontrava sentada e repetia:
– Mãe, o que a senhora está fazendo?

Dizia-lhe que, de onde eu olhava, o que ela fazia me parecia muito
estranho e confuso. Era um amontoado de nós, e fios de cores diferentes,
 compridos, curtos, uns grossos e outros finos.

Eu não entendia nada. Ela sorria, olhava para baixo e gentilmente me
explicava:

– Filho, saia um pouco para brincar e quando terminar meu trabalho eu
 chamo você e o coloco sentado em meu colo. Deixarei que veja o trabalho da
 minha posição.

 Mas eu continuava a me perguntar lá de baixo:

Por que ela usava alguns fios de cores escuras e outros claros?

 – Por que me pareciam tão desordenados e embaraçados?

 – Por que estavam cheios de pontas e nós?

 – Por que não tinham ainda uma forma definida?

– Por que demorava tanto para fazer aquilo?

Um dia, quando eu estava brincando no quintal, ela me chamou:

-Filho, venha aqui e sente em meu colo. Eu sentei no colo dela e me
 surpreendi ao ver o bordado. Não podia crer! Lá debaixo parecia tão
 confuso!
E de cima vi uma paisagem maravilhosa!

Então minha mãe me disse:

– Filho, de baixo, parecia confuso e desordenado porque você não via
 que na parte de cima havia um belo desenho. Mas, agora, olhando o bordado da
 minha posição, você sabe o que eu estava fazendo.

 Muitas vezes, ao longo dos anos, tenho olhado para o céu e dito:

 – Pai, o que estás fazendo? Ele parece responder:

– Estou bordando a sua vida, filho.

 E eu continuo perguntando:

 – Mas está tudo tão confuso, Pai, tudo em desordem. Há muitos nós,
 fatos ruins que não terminam e coisas boas que passam rápido.

 – O Pai parece me dizer: ‘Meu filho, ocupe-se com seu trabalho,
 descontraia-se, confie em Mim e…Eu farei o meu trabalho. Um dia,
 colocarei você em meu colo e então vai ver o plano da sua vida da minha
posição.’

Muitas vezes não entendemos o que está acontecendo em nossas vidas.

 As coisas são confusas, não se encaixam e parece que nada dá certo.

É que estamos vendo o avesso da vida! Do outro lado, Deus está
bordando…

Escolher e Decidir

Posted in Formação on 23/07/2008 by Juliana

                       Escolher e decidir – Existem escolhas e decisões que fazem brilhar nossos olhos
            Começo dizendo que Deus não tem nada contra o rico na passagem do jovem rico (cf. Mt. 19, 16-22). A Bíblia nos apresenta um jovem que foi embora muito triste. Fico imaginando o rosto, o semblante desse jovem.

            Penso que as palavras de Jesus despertaram nele o valor destes dois verbos: escolher e decidir. Ele não havia escutado isso de ninguém, Jesus o desconcertou ao colocá-lo em primeiro plano, enquanto muitos apenas tinham interesse no que ele possuía. A escolha e a decisão do jovem foram contrárias a de Jesus, pois colocou os bens em primeiro plano. Penso que o olhar dele dizia tudo, um olhar sem brilho. É triste ver uma pessoa sem o brilho nos olhos.
             No mercado de compra e venda existem negócios aos quais chamamos de oportunidade e quando estamos para negociar algo chega o momento em que temos de escolher e decidir. Em toda negociação acontecem essas duas coisas diante das oportunidades que surgem.
              O jovem tem o futuro pela frente, um futuro que vem acompanhado de oportunidades, no qual ele tem de escolher e decidir, por isso, a importância desse aprendizado: a arte de escolher e decidir. Quando vamos aprendendo que fazer escolhas e tomar decisão são uma arte e que ninguém pode fazê-lo por nós, este aprendizado torna-se responsabilizante, as escolhas e decisões que fazemos são responsáveis pelo brilho dos nos nossos olhos.
                   Quero partilhar com você o que estou aprendendo com esses dois verbos [escolher e decidir]. O valor que tem as nossas escolhas e decisões, que são responsáveis pelo resultado do brilho dos nossos olhos, o brilho momentâneo e o brilho perpetuado. Há escolhas e decisões que dão brilho momentâneo e outras que dão brilho que se mantém por décadas e gerações. Vamos refletir, mas, lembre-se: estou aprendendo…
                    Quantas vezes o meu olhar brilhou em conseqüência de algumas situações: quando paquerei uma menina na escola, numa festa, quando a conquistei e começamos a namorar, quando aconteceu o primeiro beijo na boca, era evidente o brilho no olhar, só que foram brilhos momentâneos. Uma outra situação foi quando ganhei o meu primeiro tênis para jogar futebol, a primeira bicicleta com marcha, que também foram brilhos momentâneos. O meu primeiro emprego, o primeiro salário, aí veio a compra de uma moto depois a do meu primeiro carro (um fusca branco ano 78). Foram brilhos que marcaram a minha história, só que foram brilhos rápidos. Somos assim, o importante é o hoje, é aproveitar o agora, é curtir a vida!
              E a vida vai passando, vamos fazendo tantas coisas e quando olhamos no espelho, cadê o brilho no olhar? Parece que o brilho vai sumindo, em alguns momentos acende, em outros, apaga, são os brilhos momentâneos.
             Desde 1994 estou aprendendo a fazer escolhas e a decidir, estou aprendendo a dar respostas. O brilho dos meus olhos hoje é conseqüência das escolhas e decisões que fiz lá atrás, quando escolhi e me decidi a seguir a proposta de vida eterna que Jesus Cristo nos apresenta.
Ninguém pode escolher e decidir por você. Quanto vale então essas duas moedas depositadas dentro de você: escolher e decidir?
             As pessoas aspiram a algo que seja capaz de dar um novo sentido para a sua vida, precisamos resgatar valores que podem dar um brilho na sociedade, quando as pessoas que nos rodeiam e que convivem conosco começarem a se despertar para essa realidade de que é possível viver assim e que não tem custo financeiro, ao contrário, é graça de Deus, é dom de Deus, isso faz com que uma explosão interior de alegria venha de dentro para fora.
                Sejamos luzeiros numa sociedade que está sem brilho nos olhos.
                O povo está precisando de pessoas felizes, com dificuldades, com problemas, com crises, mas com brilho nos olhos.
Tem Jeito!

POR:Cleto –  Comunidade Canção Nova

” Se eu pudesse escolher, eu escolheria não ter escolha”

Posted in Formação on 23/07/2008 by Juliana

        Deus na sua infinita bondade, nos concede a cada dia a graça do livre arbítrio, o poder de escolha, fazer ou não fazer eis a questão.

        Mas nós, seres humanos, corrompidos pelo pecado, porém, justificados pelo sangue do cordeiro, temos uma grande dificuldade para fazermos as escolhas corretas.

       Não digo corretas para nós mesmos, mas corretas para Deus, segundo a vontade de Deus.

      Saber discernir entre a minha vontade, entre a vontade do mundo, as ciladas do demonio, e a vontade de Deus, é para mim a maior dificuldade.

       Como saber se o que quero vai contra a vontade de Deus, até onde minha vontade é contraria a de Deus ou onde minha vontade já se uniu a de Deus.

       Hoje é muito comum essa confusão de idéias e vontades, e para piorar, o inimigo vem semar cizanio para nos confundir ainda mais.

       Como ter certeza? Não sabemos e aqui , talvez nunca tenhamos está certeza de estar fazendo sempre a vontade de Deus. Mas uma coisa eu creio estar certo, quem faz a vontade de Deus nunca erra, e a vontade de Deus não nos deixa inquietos, então se estamos em paz, estamos em Deus.

        Quando o Criador nos criou, colocou no fundo de nossa alma aquilo que talvez eu possa chamar de consciencia moral. Quando fazemos algo errado, nossa consciencia logo nos acusa, e sabemos quando estamos errados por essa acusação. Deus por ser infinitamente bom, não poderia criar nada ruim, por isso nossa essencia é boa, ainda que tenhamos atitudes ruins.

       Nossa paz é fruto das escolhas que fazemos, e nossas escolhas deveriam ser fruto de nossa oração, se estamos unidos com Deus pela oração e recolhimento, dificilmente errariamos o caminho, ainda que não soubessemos sequer, para onde caminhamos, pois Deus nos conduziria sempre, mas para isso nós temos que permitir, é fruto de nossa escolha também, rezar ou não rezar!

          Agora, quando eu rezo sempre peço a Deus uma coisa:

 

“Senhor tu me destes a liberdade de escolha, então, eu escolho não ter escolha, que a tua vontade reine sempre sobre a minha”

Assim Seja!!!

Em Jesus e Maria

Que Deus vos abençoe

Quanto Mais Amor, Mais devemos perdoar

Posted in Formação on 22/07/2008 by Juliana

        “Mulher, porque choras? A quem procuras? – Pensando que era o jardineiro Maria disse: senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o colocaste, e eu o irei buscar. Então Jesus disse: Maria! – Ela voltou-se e exclamou: Mestre. – Jesus disse: Não me segures, ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: “Eu vi o Senhor”.  (João 20, 15,18 )

 

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                Maria Madalena, de quem Jesus havia tirado 7 demônios, teve a graça de ser a primeira a contemplar Jesus Ressuscitado, a exclamar ” Eu vi o Senhor”, e do Mestre recebeu a incumbência de anunciar aos outros que Cristo venceu a morte para a nossa salvação.

             Acredito que quanto mais amor, mais há perdão também. Por isso Maria foi a escolhida por Deus para anunciar a Ressurreição aos “outros”. Ela teve seus pecados perdoados pelo Mestre, pecados que naquela época levavam a morte por apedrejamento, mas Jesus olhou-a e amou-a muito, teve compaixão, e a perdoo. Depois disso ela se tornou grande ouvinte de Seus ensinamentos, buscando vivê-los intensamente e anunciá-lo. O perdão que Jesus deu à ela, o amor demonstrado por Ele, mudaram sua vida.

           Com humildade ela lavou os pés de Jesus com suas lágrimas e o secou com seus cabelos, não há dúvidas de que Maria aprendeu de Jesus e muito amou como o Mestre, porque a pesar de seus pecados, Ele a acolheu ao invés de condená-la, amou-a, perdoo-a, e ensinou à ela como deveria proceder dali em diante. Seu exemplo, Seu jeito de ser e ajir, mais do que com palavras, ela viu o amor de Jesus e isso a transformou.

          E assim também conosco, quando nos voltamos ao Ressuscitado, chorando o peso de nossos pecados, Ele nos acolhe, olha em nossos olhos, penetra em nossos corações, e nos diz: ” Filho(a) amado (a), porque muito pecaste, muito te é perdoado, vai e não peques mais.”

         Nos faz sentir amados e capazes de amar como Maria também amou, e nesse amor que recebemos de Cristo, nos tornamos capazes de amar incondicionalmente. Se Jesus nos amou, olhando além de nossos pecados, nós também devemos amar desta forma.

           Devemos ser pontes de amor entre as pessoas, a Deus cabe o perdão dos pecados, a nós cabe amar os pecadores, porque amor gera amor e nós também somos amados, incondicionalmente por Deus.

          E assim como Maria Madalena poderemos dizer: Eu Vi o Senhor, porque Cristo é amor, e o amor habita no mais profundo de nossas almas. Somos templo do Amor Divino, revelado ao homem, a Santissima Trindade.

Deus te Ama

Santa Maria Madalena Rogai por Nós

Unir-me a vontade de Deus

Posted in Formação on 20/07/2008 by Juliana

            “Em verdade, em verdade, vos digo: o Filho por si mesmo nada pode fazer, mas só aquilo que vê o Pai fazer; Tudo o que este faz o filho o faz igualmente porque o Pai ama o filho e lhe mostra tudo o que faz” ( João 5,19-20)

                Eis o que nos revela a passagem de João, o Filho por si mesmo nada pode fazer, assim somos nós, como filhos de Deus, por nós mesmo nada podemos fazer, somente espelhar-nos em Deus, que se fez homem em Jesus Cristo, para nos mostrar que é possível vencermos as tentações. Devemos buscar unir nossa vontade à vontade de Deus e deixar que Ele mesmo nos mostre como devemos viver.

             Não é algo impossível, heróico, digno dos santos, até porque, os santos foram homens e mulheres “comuns”, como você e eu, só que buscaram todos os dias assemelharem-se ao Cristo Ressucitado, unirem suas vontades a vontade de Deus, buscaram imitá-lo a cada dia.

            E é nessa busca que devemos colocar o nosso coração, na imitação de Cristo! Lá está o nosso tesouro, lá devemos por o nosso coração, em Cristo, que se fez homem para mostrar aos homens que a santidade é possivel! Nele encontramos o nosso modelo de virtude e santidade.

           Por nós mesmos nada podemos fazer, mas nossa força vem do cordeiro que tira o pecado do mundo. Analisando sua vida, percebemos que na sua condição humana, Jesus teve o sofrimento, como nós também o temos, passou por tentações como nós também as temos, mas venceu a todas, nele encontramos a força para nos tornar-mos  cada dia mais semelhantes ao Pai!

           Isso não significa que é fácil, nossa condição corrompida pelo pecado nos torna mais vulneraveis, mas os santos, não o foram santos porque nunca pecaram, pelo contrário, foram santos porque colocaram sua esperança em Deus e lutaram dia e noite para vencer o pecado e tornarem-se cada vez mais semelhantes a Cristo, imitando suas virtudes, amando, sofrendo, mas crendo que como diz São Paulo, quando estou fraco é então que sou forte, e na nossa fraqueza, Deus vem em nosso auxilio, permitindo que suportemos com paciencia, e assim tornando-nos cada vez mais avançados na prática das virtudes.

           Buscai a Deus, enquanto Ele se deixa encontrar!!!

O Silêncio

Posted in Formação on 19/07/2008 by Juliana

                                                                                     

                Deus, nosso Criador e Salvador, deu-nos uma linguagem em que Ele pode ser anunciado, pois a fé nos vem pelo ouvido, e a nossa lingua é a chave que abre o céu aos outros.

         Mas, quando Ele vem como Esposo, nada fica por dizer, exceto que Ele vem e que devemos ir ao seu encontro. “Ecce Sponsus Venit! Exite obviam ei”. [ Eis que vem o Esposo! Saí ao seu encontro! (Mt 25,6)

           Saímos, então, a encontrá-lo na solidão. Ai nos comunicamos com Ele só, sem palavras, sem pensamentos discursivos, no silêncio de todo o nosso ser.

             Não é raro que o nosso silencio e as nossas orações levem mais ao conhecimento de Deus do que tudo o que dissermos sobre Ele.

              Se alguém entrar na solidão com uma língua silenciosa, as criaturas mudas partilharão com ele a sua tranquilidade. 

             Mas, se entra com um coração silencioso, o silencio da criação falará mais alto que a lingua dos homens e dos anjos.

            O Silêncio dos lábios e da imaginação dissolve o que nos separa da paz das coisas, que só existem para Deus e não para Si. Mas o silêncio de todo o desejo desordenado elimina a barreira que nos separa de Deus. Então passamos a viver só n’Ele.

            Os que amam o ruído que fazem, são impacientes com o resto. Desafiam cosntantemente o silêncio das florestas, das montanhas e do mar.

            Deus está presente, e o seu pensamento é vivo e palpitante na plenitude, na profundeza e na vastidão de todos os silencios do mundo. 

            Quer passe o avião está noite, quer amanhã, haja ou não haja carros na estrada, em curvas, conversem no campo os homens, haja ou não um rádio na casa, a àrvore floresce em silencio.

            O silencio nãod eve existir em nossa vida só por causa dele mesmo, ele é ordenado a outra coisa. O silencio é o pai da palavra. Uma vida inteira de silencio é ordenada a uma declaração final.

          vida e morte, palavras e silencio, são-nos dados por causa de Cristo. Em Cristo morremos para a carne e vivemos para o espírito. Morremos para ilusão e vivemos para a verdade.

         Recebemos no coração o silencio de Cristo quando, pela primeira vez, falamos de coração a palavra da Fé. Conseguimos a salvação no silencio e na esperança. O silêncio é a força da nossa vida interior. O silêncio entra misteriosamente na composição de todas as virtudes  e as preserva da corrupção.

          Sem tal silêncio, as nossas virtudes não passam de som, não passam de ruído exterior e manifestação de nada; o que revela as virtudes é a sua caridade interior, que tem um silêncio todo particular. E nesse silêncio se esconde uma pessoa: Cristo, Ele mesmo escondido, quando é falando no silêncio do Pai.

         Se enchermos de silêncio a nossa vida, viveremos em esperança, e Cristo viverá em nós, dando substância à nossa virtude.

          Se a nossa vida é dissipada em palavras  inúteis, jamais ouviremos qualquer coisa no fundo do nosso coração, onde Cristo vive e fala em silêncio.

         Nunca seremos nada, e, no fim, ao chegar a hora de mostrarmos quem somos, apareceremos sem nada a dizer no momento da decisão crucial: haveremos dito tudo e estaremos exaustos de fala antes mesmo de termos alguma coisa a dizer.

        Deve haver um momento no dia em que o homem que faz planos os esqueça e aja como se não os tivesse.

       Deve haver uma hora do dia em que o homem que precisa falar fique em silêncio, a sua mente não forme raciocínios, e ele se pergunte se os que fez tiveram algum sentido.

        Deve haver um tempo em que o homem de oração vá orar como se fosse a primeira vez na sua vida; em que o homem resoluto ponha de lado as suas decisões, como se estivessem quebradas, e ele aprenda uma nova sabedoria.

        No silêncio, aprendemos a fazer distinções. Os que fogem do silêncio, fogem também das distinções, preferem a confusão.

         Um homem que ama a Deus, necessariamente ama o silêncio, de medo de perder o seu senso de discernimento.

         A vida não deve ser olhada como uma torrente ininterrupta de palavras, finalmente silenciadas pela morte.

         Que ignora a existência de outra vida, ou que não consegue viver no tempo como uma criatura destinada a passar a eternidade em Deus, resite ao fecundo silencio do seu ser por um contínuo, ruído.

         A nossa vida inteira deve ser uma meditação da nossa ultima e principal decisão: a escolha entre a vida e a morte.

          Todos temos de morrer. Mas as disposições com que enfrentamos a morte fazem do nosso fim uma escolha de vida ou de morte.

          Se, durante a vida, escolhemos a vida, na morte passaremos da morte à vida. Vida é um bem espiritual, e os bens espirituais são silenciosos.

          Se,  no momento da morte, ela nos surpeende ocmo uma estrangeira  importuna, é que Cristo terá sido para nós um estranho importuno. Pois Cristo nos vem com a morte, trazendo-nos a vida eterna, que Ele nos adquiriu por sua morte. Quem ama pois, a verdadeira vida, pensa frequentemente na morte. Sua vida é cheia de um silêncio que é a vitória antecipada sobre a morte.

           Se digo que uma vida interior de silencio é ordenada a um pronunciamento final, não entendo que devamos todos nós imaginar morrer com pias frases nos lábios. Uma morte silenciosa pode testemunhar uma paz mais eloquente do que a morte marcada por vivazes expressões.

          Pois a eloquencia da morte é a eloquencia da pobreza humana face a face com as riquezas da divina misericórdia. Quanto mais percebermos a suprema extensão da nossa penúria, tanto maior será o sentido da nossa morte e maior a sua pobreza. Pois os santos são aqueles que preferiram ser mais pobres em vida e que, acima de tudo, exultaram diante da suprema pobreza da morte.

Na companhia de Paulo

Posted in Formação on 15/07/2008 by Juliana
 

                          
                                                     Discípulos fazem discípulos

Os objetivos do Ano Santo Paulino são vários: conhecer melhor São Paulo, “ouvir” o Apóstolo lendo, estudando e meditando seus escritos, aprendendo dele o segredo de seu grande amor por Cristo, pelo Evangelho, pela Igreja, pela missão. Enfim, temos o convite para passar um ano inteiro na companhia de São Paulo. Uma ótima companhia, que nos fará muito bem.

 

Boa proposta para o Ano Santo é ler cada dia um trecho dos Atos dos Apóstolos, que narram a conversão e as viagens missionárias de Paulo; ali aparece bem a personalidade do Apóstolo, que não deixa de impressionar, assim como sua radical conversão depois daquele encontro inesperado e forte com Cristo às portas de Damasco. Muitas pessoas, ao longo da história do cristianismo, foram marcadas pelo exemplo de Paulo e pelos ensinamentos de suas cartas. Ele é uma testemunha qualificada de Cristo e do Evangelho, um instrumento escolhido “a dedo” para levar o nome de Cristo às nações (cf At 9,15).

 

Além de ler os textos paulinos, também é interessante ler algo sobre esses escritos; não faltam bons estudos e comentários nas livrarias católicas. A CNBB, através da Comissão Bíblico-Catequética, aconselha especialmente, para este ano, a leitura e o estudo da 1ª. Carta aos Coríntios. Mas também é útil ler algum bom livro sobre o próprio Paulo e seu exemplo de discípulo e missionário de Jesus Cristo.

 

Na Igreja de Cristo existe uma lógica, como bem disse o papa Bento XVI: a fé cristã não é fruto de um raciocínio bem construído ou de uma grande idéia moral; nem decorre necessariamente do conhecimento de uma doutrina, por mais bela e verdadeira que ela seja. A fé é adesão a Deus e nasce do encontro com a pessoa real e viva de Jesus Cristo, revelador de Deus. Assim aconteceu com os apóstolos durante a vida de Jesus; foi assim também para os cristãos ao longo da história, como lemos na vida de grandes santos, como S.Agostinho, S.Francisco, S.Inácio de Loyola e tantos outros.

 

O exemplo mais conhecido e notório é a conversão de São Paulo (cf At 9). Ele encontrou Cristo de maneira surpreendente: Enquanto perseguia os cristãos, ouviu a voz que o interpelava: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Caído ao chão e cego, por causa da luz fortíssima que o envolveu, ele quis saber quem o chamava desse modo: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”. Paulo, na verdade, perseguia os cristãos, mas ouviu que o próprio Jesus é que se sentia perseguido. Imediatamente, ele se colocou em atitude de escuta: “Senhor, que queres que eu faça?”

 

A partir daí, sua vida ficou marcada por esse encontro com Jesus Cristo ressuscitado e com os cristãos, que são como os membros do corpo de Cristo ressuscitado. Paulo acolheu o Evangelho e dedicou toda a sua vida a Cristo e ao anúncio do Evangelho. Não teve mais outra meta na vida, senão testemunhar a misericórdia que ele próprio encontrou e anunciar a salvação de Deus para todos. Dedicou as suas energias para levar o nome de Cristo a todos, sem medir esforços nem cansaços. Nem mesmo a vida lhe importava mais, contanto que Cristo fosse anunciado e acolhido.

 

Discípulos fazem discípulos. Desde que Jesus chamou os primeiros apóstolos, esses mesmos foram falando do Mestre para outros e levando, com alegria e entusiasmo, seus amigos e companheiros a Jesus. E desde que Jesus enviou os apóstolos ao mundo para fazerem discípulos no meio de todos os povos (cf Mt 28,19), até nossos dias, também continuou assim: discípulos fazem discípulos. A Igreja nos faz um pedido insistente para sermos, de maneira renovada, discípulos e missionários de Jesus Cristo, num contexto cultural onde o testemunho da fé já não passa mais automaticamente de geração em geração.

 

“A Igreja cresce por atração”, disse o Papa em Aparecida. Discípulos tornam-se missionários. Assim sempre aconteceu na história de nossa fé. Os amigos de Jesus, que se deixaram atrair por ele, levaram seus amigos a Jesus: seus maridos ou esposas, seus filhos, parentes, colegas de estudos ou trabalho, vizinhos, companheiros de férias ou viagens, também pessoas desconhecidas, que intuíram a beleza e a alegria da experiência dessa amizade com Jesus Cristo, “caminho, verdade e vida”.

 

No Ano Paulino, na companhia de Paulo e tendo-o como mestre e testemunha da fé, deixemo-nos contagiar por ele, como Lucas, Marcos, Dionísio, Timóteo, Lídia, Tito, Silas, Áquila, Priscila e tantos outros. A companhia e o exemplo de Paulo, durante este ano jubilar, poderão nos ajudar. Ele já levou muitos a Jesus Cristo. E continuará a fazê-lo ainda hoje…

 

 

 

 

 

Card. D. Odilo P. Scherer
Arcebispo de S. Paulo

A Solidão Interior

Posted in Formação on 14/07/2008 by Juliana

                                                                                      

              A Caridade é um amor por Deus que respeita a necessidade que os outros têm de Deus. Por isso, só a caridade nos consegue dar o poder e a delicadeza de amar os outros sem corromper a solidão que lhes é necessária e os salva.

         Não insistamos demais no fato de que o amor procura penetrar os intimos segredos do amado. Quem se deixa apaixonar por essa idéia é desprovido de verdadeiro amor, porque em vez de respeitar, viola a solidão daqueles que ama. O verdadeiro amor penetra nos segredos e na solidão do amado quando lhe permite que guarde para si os seus segredos e continue solitário.

           Reserva e Solidão são valores que pertencem à própria essência da personalidade.

           Uma pessoa é pessoa a medida que possui segredo e constitui uma solidão. Se eu amo uma pessoa, amarei o que mais a faz ser pessoa: o mistério, o segredo, a solidão do seu ser, que só Deus pode penetrar e compreender.

          Compaixão e respeito ajudam-nos a conhecer  a solidão do próximo. Se respeito a solidão do meu irmão, reconhecê-la-ei pelos reflexos que lança, através da caridade  na solidão de minha alma.

          Se um homem desconhece o valor da sua própria solidão, como pode respeita-la nos outros? A solidão é tão necessária à sociedade, quanto o silêncio  à linguagem.

          A verdadeira solidão encontra-se na humildade. A falsa solidão é o refugio do orgulho e é infinitamente pobre. A solidão autêntica purifica a alma.

      A verdadeira solidão é a da “caritas… non quaerit quae sua sunt” [a caridade…não procura o que é seu] (I cor 13,5).

       Envergonha-se  de ter o que não lhe é devido. Procura a pobreza e renuncia a tudo o que não lhe é essencial.

       Nossa solidão pode ser fundamentalmente verdadeira, mas ainda imperfeita. Nesse caso contamina-se com o orgulho. É uma mistura confusa de ódio e amor. Um dos segredos da perfeição espiritual é perceber que possuímos essa mistura em nós e saber distinguir uma da outra. Pois a tentação dos que buscam a perfeição é tomar ódio pelo amor e colocar a sua perfeição numa vida solitária que distingue dos outros pelo ódio, pondo-se a amar e a odiar, ao mesmo tempo, o que eles têm de bom.

       O ascetismo do falso solitário é sempre falso. Pretende amar os outros mas os odeia, por conseguinte, a nossa reclusão enquanto for imperfeita, há de tingir-se de amargura e desgosto, porque esgotará por um constante conflito.

      A nossa solidão será imperfeita enquanto marcada de inquietação. Pois esse vício faz-nos odiar o que é bom e fugir das virtudes que só nos podem salvar.

       O verdadeiro solitário não tem que fugir dos outros: eles é que cessam de reparar nele, porque não compartilha a sua busca de ilusões. A alma verdadeiramente solitária torna-se incolor.

       A pura solidão interior encontra-se na virtude da esperança. A esperança nos retira inteiramente deste mundo, embora aí continuemos em corpo.

        Essa, a  verdadeira solidão, em torno da qual não há disputas nem questões. A alma que então se encontrou a si mesma, gravita em direção do deserto, mas não faz objeção em permanecer na cidade porque está só em toda parte.

O Espírito Sopra Onde Quer

Posted in Formação on 11/07/2008 by Juliana

                                                                                     

               Deus está em toda a parte e nunca nos deixa. No entanto, Ele parece, umas vezes presente, outras ausente. Se não O conhecemos bem, não percebemos que Ele nos pode ser mais presente em Sua ausência do que em Sua presença.

               Deus tem duas espécie de ausência. Uma é a que nos condena; a outra a que nos santifica.

               Na ausência que condena, Deus “não nos conhece”, visto que pusemos um outro deus no Seu lugar. Na ausência que santifica, Deus esvazia a alma de toda a imagem capaz de converter-se em ídolo e de cada interesse que poderia ser obstáculo entre a alma e Deus.

               Os que amam só a presença aparente de Deus não podem seguir aonde quer que Ele vá. Eles não O amam perfeitamente se não consentem na Sua ausência.

             Deus aproxima-se do nosso espírito ao afastar-se dele. O Senhor viaja em todas as direções ao mesmo tempo. O Senhor chega de todos os lados ao mesmo tempo.

            Cada homem torna-se a imagem do deus que ele adora.

            Quem adora uma coisa morta, converte-se em coisa morta.

            Quem ama a corrupção, fica pobre.

            Quem ama uma sombra, transforma-se em sombra.

            Quem ama coisas perecíveis, vive no medo da sua perdição.

            O contemplativo, que procura  guardar Deus prisioneiro em seu coração, torna-se também prisioneiro dos estreitos limites do seu coração.

            O homem que deixa ao Senhor a liberdade do Senhor, adora-O em sua liberdade e recebe a liberdade dos filhos de Deus.

            Sois o Deus forte, o Santo, o Justo, poderoso e discreto na Vossa bondade, escondido de nós a Vossa liberdade, a dar-nos amor sem limites, para que recebendo tudo da Vossa liberdade, possamos conhecer que só Vós sois Santo.

           O sábio lutou para ver em Vós a Sua sabedoria, e não conseguiu. O justo esforçou-se por vos compreender em sua justiça, e se perdeu.

           Mas o pecador, subitamente tocado pelo raio de misericórdia que devia ter sido da justiça, prostra-se em adoração diante da Vossa santidade, pois ele viu o que reis desejaram ver e não viram. Ele viu que o Vosso amor é tão infinitamente bom que não pode ser objeto de contrato humano.

        todo verdadeiro filho de Deus é manso, perfeito, dócil e solitário.   

(Thomas Merton)